A pedagoga Luana Tillmann, e agora mestre em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal Catarinense (IFC), defendeu na última quinta-feira (16) o seu produto educacional, intitulado Portfólio Formativo: Uma proposta de Formação Continuada sobre Práticas Pedagógicas e materiais didáticos acessíveis para Inclusão de Estudantes Cegos no Ensino Médio Integrado no Contexto da EPT – Educação Profissional e Tecnológica.
A estudante, que teve como orientadora a professora Sônia Regina de Souza Fernandes, pedagoga e atual reitora do IFC, conta que o portfólio é organizado com materiais selecionados, materiais produzidos (de texto e apresentações de slides) e materiais de leitura complementar, além de sugestões de atividades que podem ser realizadas em processo formativo de forma interativa, atendendo às orientações de acessibilidade para documentos digitais. “O portfólio poderá ser utilizado por quem desejar, tanto para replicarem o curso, quanto para autoformação, por meio da leitura e da consulta dos materiais indicados”, explica.
Sobre sua jornada acadêmica, Luana, que é cega, conta que para fazer as leituras, as anotações e as atividades avaliativas, utilizou o notebook com o software leitor de tela. “Em leituras com volume maior, preferi realizá-las por meio do leitor de tela, utilizando o braile especialmente em situações mais cotidianas, como leitura de embalagens, placas de sinalização e anotações pessoais”.
No fechamento da apresentação de defesa, a professora Sônia ressaltou que orientar Luana foi um aprendizado e que a estudante é uma pessoa com abertura para o diálogo e com autonomia fantástica. “Meu respeito ao percurso da construção histórica, profissional e pessoal da Luana. Em muitas coisas não me sentia à vontade para sugerir que fosse de outra forma, porque ela tem uma construção no campo que ela escolheu mais aprofundada e densa do que eu, além da condição do lugar de fala, dos pés de onde ela pisa, que é a condição de cega”, observou a orientadora.
“A turma do ProfEPT 2018 é uma turma muito especial”
Luana integra a primeira turma do programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) em rede nacional, da área de Ensino, ofertada pelo IFC, com polo no Campus Blumenau. Luana e a mestranda Karem Resende são as primeiras cegas a participarem do programa no campus. Para Luana, a turma é muito especial, não porque é a primeira, mas porque juntos demonstram a potencialidade que a educação e o ensino têm para formar e transformar a realidade, “tanto em uma dimensão pessoal e profissional, quanto em uma dimensão mais ampla, uma transformação social”, reforça.
Servidora pública federal, Luana é professora de Atendimento Educacional Especializado no IFC Campus Santa Rosa do Sul. Para ela, a conclusão do mestrado está ligada às possibilidades de acesso, às políticas públicas e à rede de apoio. “Não me considero exemplo ou inspiração para outras pessoas cegas, pois cada um é único e está inserido em um determinado contexto”. Entretanto, ela entende que, enquanto instituição, é necessário ampliar as discussões e as ações voltadas à inclusão de estudantes cegos.
Defesa pelo canal do YouTube
Em tempo de pandemia do novo coronavírus, a defesa, que geralmente ocorre em sala de aula, muitas vezes limitada a um pequeno grupo, rompeu espaços e atingiu um público de cerca de 100 pessoas que acompanharam ao vivo a defesa da mestranda pelo canal do campus no YouTube. A transmissão foi acessível em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e contou com as intérpretes do IFC Samara dos Santos e Mara Körtelt.
Participaram da banca examinadora a professora/orientadora Sônia Regina de Souza Fernandes, os professores do IFC Cladecir Alberto Schenkel e Judith Mara de Souza Almeida, e a professora da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Andrea Soares Wuo.
Após finalizados os ajustes solicitados pela banca, a previsão é de que o produto educacional e o texto dissertativo estejam disponíveis no Portal EduCapes em aproximadamente 30 dias.
Assista à apresentação aqui.
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Texto: Gisele Silveira/Jornalista/Cecom/Campus Blumenau
Foto: Luiza Gonçalves Tillmann